sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

PINHEIRINHO: "QUEM APANHA, LEMBRA"

Por Carlos Latuff*

Este texto é um desabafo. Não pretendo que seja uma análise aprofundada. Outros artigos estão sendo escritos com esse propósito, por gente bem mais capacitada que eu. Expresso aqui a revolta que contamina meu coração desde domingo passado, quando acordei com a notícia de que os milhares de moradores do Pinheirinho, em São José dos Campos, estavam sendo desalojados.



Estive lá na semana passada, numa visita de solidariedade àquelas pessoas que estavam na iminência de serem despejadas de um terreno que ocupavam desde 2004. A juíza Márcia Faria Mathey Loureiro, da 6ª Vara Cível de São José dos Campos, assinou a reintegração de posse (pomposo termo jurídico para despejo) em favor do senhor Naji Robert Nahas, notório especulador cujo nome aparece nas manchetes de jornal associado a crimes como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas.

Foram muitos os esforços para tentar deter o despejo, de advogados que se voluntariaram a ajudar os moradores do Pinheirinho, até sindicalistas, militantes de partidos de esquerda, movimento dos sem-teto, dos sem-terra, parlamentares, artistas como o rapper Emicida. Formou-se uma verdadeira rede de apoio, como há muito eu não via. Fiz questão de visitar o Pinheirinho porque queria fazer mais por aqueles moradores do que simplesmente desenhar charges. Fiz questão tambem de registrar imagens da ocupação, sempre mostrada pela imprensa como um acampamento de rebeldes que armados de paus e pedras se recusavam a acatar pacificamente uma ordem judicial.

O que encontrei não foi surpresa. Estive em visita a ocupações urbanas e rurais por algumas vezes na vida. Os moradores do Pinheirinho me lembravam os camponeses que conheci em Rondônia e no Paraguai. Aqueles olhares, os sorrisos de boas vindas e os pés descalços, gente humilde, de poucos recursos mas de muita coragem, que precisa de terra pra viver, e não para a especulação imobiliária. No Pinheirinho conheci uma família que saiu do interior da Bahia, onde sobreviviam do que conseguiam achar num lixão, e que construíram uma vida nova a custa de muito trabalho. O pai catando materiais recicláveis, a mãe vendendo secos e molhados em casa e a filha fazendo fraldas descartáveis. Tenho até hoje o papelzinho com o preço das fraldas. Conheci também o seu Jaime, um paranaense que veio com a família, e que me mostrou orgulhoso a horta que cuidou com tanto carinho, incluindo os pés de café que trouxe do Paraná. Visitei a Pamela e sua filhinha de 30 dias, e vi seu quintal, todo decorado pelo seu companheiro com brinquedos coloridos.

Vi crianças jogando bola, brincando no chão de terra enlameado depois da chuva, vi a jovem mãe levando seu filho no carrinho, tentando desviar das poças de lama. Com um celular ia compartilhando estas imagens com os internautas. Queria que todos vissem de que se tratava de gente, de carne, osso e alma, e não apenas figuras sem nome no noticiário da TV. Por esse exercício de humanidade não passam os que usam suas canetas de ouro para assinar ordens de despejo, nem tão pouco os policiais que as cumprem.

É comum a gente imaginar que por trás dessas decisões judiciais estejam figuras engravatadas que tem prazer em desalojar famílias pobres, que acham graça, riem, fazem piada, como vilões de filmes ou histórias em quadrinhos. Cheguei a conclusão de que não é bem assim. O despejo dos 9000 residentes daquele terreno foi uma ação burocrática, desprovida de sentimento. Fora os policiais militares, esses sim, que tem prazer em seu ofício brutal, os burocratas sequer tem contato com as vidas que destroem. As famílias do Pinheirinho são apenas obstáculos a serem removidos. Quando faço charges associando tais ações ao nazismo é porque identifico nelas a mesma ausência de humanidade. Penso em Adolf Eichmann e a tranquilidade com que descrevia o processo pelo qual deportou milhares para campos de concentração. Aquilo era para ele tão somente um ato administrativo. Nem a juíza Márcia Faria, nem Naji Nahas, nem o prefeito de São José dos Campos Eduardo Cury ou o governador de São Paulo Geraldo Alckmin se dispuseram a visitar a ocupação, já que seus moradores não são ninguém, não são nada além de um estorvo, um obstáculo ao império da ordem e da indústria imobiliária. Milhares de almas jogadas na rua, sem qualquer remorso ou compaixão, em favor de alguem que, diferente dos moradores do Pinheirinho, não precisa trabalhar para viver, sustenta-se através da falcatrua, da corrupção, das amizades influentes. Os moradores ficaram sem lar, mas os que os despejaram, voltaram para o conforto de suas casas.

Quem vai se lembrar daquela gente quando, no terreno onde antes havia o Pinheirinho, for construído um mega shopping center? Quem sabe o novo empreeendimento seja batizado como "Pinheirinho Mall" ou talvez a palavra Pinheirinho nem seja mais usada pela administração municipal, na tentativa de apagar de vez a memória do que antes foi uma ocupação. Mas como diz o ditado popular, "quem bate esquece, quem apanha lembra".

* Carlos Latuff é cartunista.



 


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

REUNIÃO DO COLEGIADO DE CA'S E DA'S DO DIA 11 DE JANEIRO

Nessa quarta-feira (11/02) estivemos presentes na Reunião do Colegiado de Centros e Diretórios Acadêmicos da Universidade de Passo Fundo que abordou os recentes ataques da Fundação UPF e as discussões encaminhadas através da Comissão de Negociação, formada na reunião anterior.

CANCELAMENTO DOS CONVÊNIOS E ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

A Comissão de Negociação informou que foram realizadas duas reuniões com o Presidente da Fundação UPF, Professor Celso Carlos Gomes Gonçalves, onde houve um compromisso de   estudar uma nova modalidade de descontos de até 3% aos estudantes e que em 1º de março o Restaurante Universitário estaria funcionando a preços populares.

ENCAMINHAMENTO: O Colegiado aprovou que a Fundação UPF deve apresentar propostas concretas sobre as pautas acima até o dia 15 de fevereiro de 2012. Caso as solicitações não sejam atendidas, o DCE deve convocar Assembleia Geral dos Estudantes da UPF no início das aulas.

LICITAÇÃO DO TRANSPORTE COLETIVO

O Coletivo Nada Será Como Antes nasceu em março de 2011 em meio as mobilizações do Comitê em Defesa do Transporte Público, hoje Comitê das Lutas Sociais, contra o aumento das passagens e pela licitação do transporte coletivo.

Por isso, questionamos o fato da Direção do DCE interpelar o Ministério Público sobre a questão sem articular os todos os estudantes através do Colegiado. Ao invés disso, buscaram apoio de um vereador local que, apesar das suas origens entre a juventude, a dois anos atrás estava junto com aqueles que ameaçavam processar os estudantes que lutavam contra o aumento das passagens por causa de um panfleto.

ENCAMINHAMENTO: O Presidente do Diretório Acadêmico da Informática e militante do Coletivo Nada Será Como Antes, o estudante Vinícius Eckert, teve sua proposta de que um requerimento fosse enviado ao Gabinete do Prefeito Airton Dipp com a assinatura de todas as entidades estudantis aprovada. 


PASSO FUNDO NA II CONFERÊNCIA NACIONAL LGBT

Por Oscar Santos*


Representando o Plural - Coletivo LGBT, fui para a II Conferência Nacional LGBT em Brasília. Com a posição crítica e a certeza de que a Conferência mais servia de palco à figuras ligadas ao governo, do que de luta eficaz, tive a experiência maravilhosa de ficar hospedado no ap de dois meninos da Cia Revolucionária Triângulo Rosa.

Levando material elaborado coletivamente, denunciamos a falta de representatividade à comunidade LGBT, já que muitos delegados para a conferência foram eleitos nas surdinas, pulando as etapas municipais, numa estratégia anti-democrática de calar quem se opõe às ações governamentais.

A delegação do RS presente era grande, e a maioria dos delegados, militantes do Partido dos Trabalhadores - PT. Cheguei a ouvir a crítica de que a especificação "contra PT" no nosso material poderia desagradar alguns. Mas quem disse que o objetivo é agradar com omissão de posicionamento? Agradar oposição como Marta Suplicy (Senadora do PT, relatora do PLC 122) fez ao tirar todo efeito do texto do projeto de lei que criminaliza a homofobia? Ou como fez a presidenta Dilma (ausente na Conferência) cedendo a chantagens e vetando o Kit Escola sem Homofobia?

Ouvi também, dizerem que somos muito radicais. Mas a mediação e amenização nos debates com os fundamentalistas, tem surtido efeito? Ou tem nos levado a uma regressão assustadora?

Os Grupos de Trabalho da II Conferência deixaram claro a total inatividade de tudo o que foi aprovado em 2008, na I Conferência, porque as propostas se repetiram. Aqueles que estão, de alguma forma ligados ao governo: polianos; Os indignados com a lentidão do movimento: brigando para expor sua revolta num espaço planejado para a censura da oposição.


A revolta contra o veto do Kit Escola sem Homofobia, apareceu no grito: "ÔÔÔ DILMA, PISÔ NA BOLA! HOMOFOBIA CONTINUA NA ESCOLA!". E a crítica contra a "amenização" da luta se fez presente quando o grito foi: "ÔÔÔ DILMA, QUE PAPELÃO! NÃO SE GOVERNA COM RELIGIÃO!". Mas as discussões acerca do polimento do PLC 122 se limitaram aos corredores. Não há crime homo-lesbo-bi-trasfóbico que não seja antecedido de discurso de ódio, e este foi liberado no novo texto do projeto que antes criminalizava de forma muito mais abrangente o que nos ameaça. Não há luta sem visibilidade, e a demonstração de afeto em público é carta fora deste novo baralho.

O grupo Mães pela Igualdade vem emocionar e reafirmar o quão importante é o apoio que recebemos Delas. Uma militante do grupo pegou o microfone e, aos prantos, fez um apelo aos ministérios representados: "Não deixem mais os nossos filhos morrerem!"

Na Conferência de 2008, a discussão sobre a sigla LGBT foi pautada e esta foi modificada, afim de dar visibilidade a movimentos que fazem parte desta luta. Nesta conferência, a novidade foi a discussão do destaque dos diferentes tipos de preconceitos sentidos pelos representados por essa sigla. Além da Homofobia, foram acrescentados nos textos os termos Lesbofobia, Bifobia e Transfobia. E na plenária final, uma surda pegou o microfone e oralizou, dizendo que era necessário incluir nas propostas o Capacitismo (preconceito e discriminação contra pessoas com deficiência.)

Tentamos disseminar dentro da Conferência, a percepção de que o Movimento LGBT está sendo cooptado pelo governo que não nos representa, e enfraquecido pela disputa entre ONG's. Tentamos esclarecer que os méritos de figuras ligadas ao governo devem ser reconhecidos, mas que seu vínculo a partidos que deixam nossos interesses em ultimo plano não pode ser esquecido.

Foram quatro dias de discussão, aprovação de propostas para formular diretrizes que servem de mera consulta ao Conselho Nacional LGBT. Quatro dias discutindo propostas de políticas públicas, sendo que nem lei de base temos aprovada, que sustente estas políticas encasteladas. Quatro dias em "banho-maria", frente a uma patética demonstração de preocupação com o público LGBT, na organização de um evento que  não o representa. Mais patético ainda é ver a ausência de crítica, de reflexão, e a inatividade dos movimentos sociais. As ONG's levantam bandeiras de partidos e espalham a opinião de que os movimentos sociais são muito radicais. Enquanto aproveitam de recursos de partidos que mediam nossos interesses com grandes autores de discursos de ódio.

Não se luta pela metade, posição é coisa séria e necessária. O movimento LGBT brasileiro necessita urgentemente de maior união, politização e seriedade!


* Estudante de Fonoaudiologia da UPF e militante do Plural Coletivo LGBT e do Coletivo Nada Será Como Antes.